terça-feira, 29 de setembro de 2009

Temas: OUTUBRO

OUTUBRO

Ano Sacerdotal

Para percebermos melhor a convocação do Papa de um Ano Sacerdotal, primeiro precisamos de perceber o que é que significa Sacerdote, depois perceber – ou, para muitos de nós, descobrir – que todos os cristãos somos sacerdotes e, por fim, entender o papel dos sacerdotes – mais conhecidos por padres! Sem esta ligação podemos correr o risco de ver o Padre como um privilegiado, alguém que foi escolhido para ter uma função diferente da minha mas que não tem nada a ver comigo.

No Antigo Testamento, os sacerdotes eram homens separados por Deus para oferecer sacrifícios pelos pecados do povo. Eles eram mediadores entre os homens e Deus, ou seja, faziam a ponte, a ligação. No entendimento do Antigo Testamento, o seu principal papel era a oferta de sacrifícios que iriam agradar a Deus, quer fosse em agradecimento de alguma coisa ou para “aplacar a ira de Deus”, uma expressão muito comum na época. Serviam como sacrifícios para expiar os pecados, para pedir o perdão dos pecados.

Ao longo do tempo percebeu-se – e essa foi a grande novidade em Jesus Cristo – que não devíamos oferecer a Deus algo que não fossemos nós próprios. Se calhar isto para nós é óbvio, porque já conhecemos Cristo, mas para quem estava habituado a ter uma espécie de lista de equivalências entre pecado e algo a oferecer, passar desse ponto de vista a perceber que o que nós oferecemos somos nós próprios, é uma grande mudança. E foi isso que Cristo veio fazer: Ele, o “Sumo-Sacerdote”, o maior e mais perfeito sacerdote, o único sacerdote, ofereceu a Sua própria vida pelos nossos pecados. Por isso é que dizemos que Ele é o único sacerdote, porque Ele se ofereceu por todos nós. Se virmos bem, Cristo é o Sacerdote e a vítima (na linguagem bíblica, vítima era o objecto do sacrifício, podendo ser, por exemplo, um animal), Cristo é quem faz a ponte entre Deus e o homem porque Ele é Deus e homem.

«Jesus Cristo é aquele que o Pai ungiu com o Espírito Santo e que constituiu "Sacerdote, Profeta e Rei". O Povo de Deus inteiro participa dessas três funções de Cristo e assume as responsabilidades de missão e de serviço que daí decorrem.» (CIC 783).

Muito bem, já percebemos que o Sacerdote único é Cristo. Então e nós, os cristãos leigos, as pessoas “normais”? Diz-nos o Catecismo da Igreja Católica que «Ao entrar no Povo de Deus pela fé e pelo Baptismo, recebe-se a participação na vocação única deste povo, na sua vocação sacerdotal: "Cristo Senhor, Pontífice tomado de entre os homens, fez do novo povo 'um reino e sacerdotes para Deus Pai'. Pois os baptizados, pela regeneração e unção do Espírito Santo, são consagrados para ser uma morada espiritual e sacerdócio santo» (784). O Baptismo faz-nos membros do Corpo de Cristo. O Baptismo faz participar do sacerdócio comum dos fiéis. Toda comunidade dos fiéis é, como tal, sacerdotal. Todos nós somos sacerdotes; exercemos o chamado “sacerdócio baptismal” por meio da participação, cada qual segundo sua própria vocação, na missão de Cristo Sacerdote. (Cf CIC 1546 e 1547)

O sacerdócio ministerial (próprio dos sacerdotes que são ministros) ou hierárquico dos bispos e dos presbíteros e o sacerdócio comum de todos os fiéis, embora “ambos participem, cada qual a seu modo, do único sacerdócio de Cristo”, diferem, entretanto, essencialmente, mesmo sendo “ordenados um ao outro”. Em que sentido? Enquanto o sacerdócio comum dos fiéis se realiza no desenvolvimento da graça baptismal, vida de fé, de esperança e de caridade, vida segundo o Espírito, o sacerdócio ministerial está a serviço do sacerdócio comum, refere-se ao desenvolvimento da graça baptismal de todos os cristãos. É um dos meios pelos quais Cristo não cessa de construir e de conduzir sua Igreja. Por isso, é transmitido por um sacramento próprio, o sacramento da Ordem. A diferença então é que estes sacerdotes ministeriais – os Bispos, Padres e Diáconos – são sacerdotes para serem verdadeiros pastores, para conduzirem o povo de Deus. Assim como os antigos sacerdotes ofereciam sacrifícios para fazer esta ligação entre os homens e Deus, estes sacerdotes continuam essa ligação, oferecendo, por exemplo, o sacrifício maior de todos, que é o de Cristo na cruz, morto e ressuscitado: a Eucaristia.

Acabamos mais uma vez a ouvir os ensinamentos do Catecismo da Igreja Católica: «“os membros não têm todos a mesma função” (Rm 12,4). Certos membros são chamados por Deus a um serviço especial da comunidade. Tais servidores são escolhidos e consagrados pelo sacramento da ordem, por meio do qual o Espírito Santo os torna aptos a agir na pessoa de Cristo-Cabeça para o serviço de todos os membros da Igreja. O ministro ordenado é como o ícone de Cristo Sacerdote» (1142).

Assim já é mais fácil perceber algumas diferenças entre o sacerdote que é o padre e cada um de nós, leigos, que também somos sacerdotes. Mas será que estamos a perceber isto bem? Vamos tentar ver as coisas de uma maneira mais concreta!

Se eu sou sacerdote, então eu tenho uma missão específica e concreta na Igreja. Deixo de ser um anónimo no meio da multidão, já não sou uma “mais um no meio da carneirada” mas sou um sacerdote! Alguém que é importante para a salvação dos outros, porque ajudo a fazer esta ponte entre Deus e os homens. Sendo sacerdote, tenho um sentimento de pertença à Igreja! E isso faz-me querer entregar a minha vida à Igreja, aos outros. Entregar a vida, foi o que Cristo- Sacerdote fez. Entregar a minha vida, cada dia, por cada um dos outros.

Especialmente neste ano sacerdotal devemos rezar pelos sacerdotes – todo o povo de Deus mas especialmente os chamados ministros ordenados – Bispos, Padres e Diáconos. Rezamos pelas vocações sacerdotais, pela importância que têm na Igreja. Sem eles não haveria Igreja porque não haveria o sacramento da Eucaristia!

Para a discussão sobre o tema

Tenho consciência do meu papel na vida da Igreja? Se calhar nunca tinha pensado nisto de ser sacerdote, mas agora posso começar a olhar com outros olhos a minha pertença à Igreja.

Muitas vezes “exigimos” muitas coisas dos padres, como se fossemos clientes e eles meramente funcionários. Queremos Missas rápidas, que fale bem, que não “ralhe” com as pessoas. Que tenha jeito para crianças, que cante bem, etc. E nós, o que fazemos pela Igreja? Aceitamos quando alguém “exige” alguma coisa de nós, como fazer parte de um coro, ajudar na preparação da Missa, dar catequese na paróquia, ter um cargo num movimento?

Eu sou sacerdote porque Cristo é Sacerdote. Isso ajuda-me na minha relação com Cristo? Sinto-me a fazer uma missão que é a mesma de Cristo? E, por isso, sinto que é Ele que faz essa missão em mim? Nas dificuldades, é a Cruz de Jesus que eu levo. As alegrias são as de Jesus. Ajudo a fazer esta ponte entre Deus e os homens?

Ano Sacerdotal! Já rezei a minha vocação? Será que Deus me chama a ser Padre? (Esta é para os rapazes!) Tenho tanto medo ou vergonha desta pergunta que nunca a pus com verdade? Veria isso como um cargo ou uma graça para a minha vida?

Ponto de Esforço (algumas sugestões)

Rezar durante o Ano Sacerdotal pelos Padres, lembrando-me dos Padres que eu conheço.

Ir ter com algum Padre, querer conhecê-lo melhor, oferecer-lhe ajuda em algum serviço que precise.

Rezar uma oração todos os dias pelos sacerdotes.

Fazer alguma coisa que me faça sentir verdadeiramente a minha vocação sacerdotal que tenho desde o baptismo. Ajudar alguém a aproximar-se de Deus. Rezar com alguém que não tenha esse hábito.

Para ajudar à preparação da reunião e para ler no sentido de aprofundar o tema ler:

Catecismo da Igreja Católica (Ver Sacerdócio no Índice Temático)

www.annussacerdotalis.org

O Presbítero, pastor e guia da comunidade paroquial – uma Instrucção da Congregação para o Clero que se pode ler no site do Vaticano (Ir a www.vatican.va e pesquisar o nome da Instrução)

Passagens Bíblicas:

Ap 1,6; 5,9-10;

1 Pd 2,5.9.

Oração de São João Maria Vianney

(padroeiro do Ano Sacerdotal)

Eu Vos amo, meu Deus,
e o meu único desejo é amar-Vos até ao último suspiro da minha vida.
Eu Vos amo, Deus infinitamente bom,
e prefiro morrer amando-Vos que viver um só instante sem Vos amar.
Eu Vos amo, meu Deus,
e só desejo o Céu para ter a felicidade de Vos amar perfeitamente.
Eu Vos amo, meu Deus,
e só temo o inferno porque aí nunca haverá a doce consolação de Vos amar.
Meu Deus, se a minha língua não puder estar sempre a dizer que Vos amo,
que o meu coração o diga tantas vezes como quantas eu respiro.
Senhor, dai-me a graça de sofrer amando-Vos, de Vos amar sofrendo,
e de um dia expirar amando-Vos e sentindo que Vos amo.
E quanto mais me aproximo do meu fim,
mais Vos imploro a graça de aumentar e aperfeiçoar o meu amor.
Amen

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