terça-feira, 29 de setembro de 2009

Temas: NOVEMBRO

Novembro


Encontros com Jesus

O olhar de Jesus é o de Deus: não fica na superfície, mas penetra profundamente, atinge o coração e vê o que está no íntimo do homem. Só quem, como Jesus, vê o escondido sabe discernir entre miragens e realidades, entre o que é aparente e o que é verdadeiro. É com este olhar que Jesus se encontra connosco. E é neste encontro que se dá a nossa conversão. Só neste lugar, com a presença de Jesus Cristo e com a minha presença, é que é possível eu mudar, melhorar, crescer. Só aqui é possível eu ser amado e amar.

Numa passagem do Evangelho, Jesus encontra um jovem que, candidamente, Lhe diz: «Bom Mestre, desde jovem tenho observado todos os mandamentos. Que devo fazer para herdar a vida eterna?». Jesus - refere o Evangelho - «olhou com amor para ele» (Mc 10, 17-22). «Olhou para ele» não indica um olhar distante, indiferente, superficial; significa: olhar para dentro, alcançar a parte mais recôndita da alma que só Deus conhece. É neste olhar que nos vamos deter neste tema, porque este olhar de Jesus acontece nos encontros que temos com Ele. É assim na nossa vida como foi na vida daqueles que se cruzaram com Jesus.

Lc 19, 1-10

O encontro de olhares com Zaqueu

1Tendo entrado em Jericó, Jesus atravessava a cidade. 2Vivia ali um homem rico, chamado Zaqueu, que era chefe de cobradores de impostos. 3Procurava ver Jesus e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. 4Correndo à frente, subiu a um sicómoro para o ver, porque Ele devia passar por ali. 5Quando chegou àquele local, Jesus levantou os olhos e disse-lhe: «Zaqueu, desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa.» 6Ele desceu imediatamente e acolheu Jesus, cheio de alegria. 7Ao verem aquilo, murmuravam todos entre si, dizendo que tinha ido hospedar-se em casa de um pecador. 8Zaqueu, de pé, disse ao Senhor: «Senhor, vou dar metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém em qualquer coisa, vou restituir-lhe quatro vezes mais.» 9Jesus disse-lhe: «Hoje veio a salvação a esta casa, por este ser também filho de Abraão; 10pois, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido.»

Em Jericó há um homem que procura «ver» Jesus (Lc 19, 2). Contrariamente ao que, em geral, acontece nos Evangelhos, aparece o nome dele: Zaqueu, nome que - por uma estranha ironia - significa «íntegro, puro»! Com razão, todos consideram que os publicanos são ladrões. Zaqueu não é apenas um publicano, mas «um chefe dos publicanos» (cobradores de impostos para os Romanos). Precisamente o contrário de «puro»!

Além do nome, Lucas refere um pormenor curioso: o homem é muito baixo. Não se trata de uma informação banal sobre o físico de Zaqueu. A intenção do evangelista é a de sublinhar que, aos olhos de todos, Zaqueu é pequeníssimo, insignificante, quase invisível. É um dos excluídos do banquete do reino de Deus. E, no entanto, ele «deseja ver quem é Jesus». Note-se a subtileza: não quer simplesmente «ver Jesus», a estrela do momento, mas «ver quem é Jesus». O seu olhar não é o de um espectador curioso, mas o olhar de quem, impelido por uma angústia interior, vai à procura de uma luz. Tem tudo, mas está profundamente insatisfeito; por isso, esforça-se por encontrar-se com quem pode compreender o seu drama e ajudá-lo a sair dele.

E, para poder vê-I'O, sobe a um sicómoro (Lc 19, 3). Não sobe ao terraço de uma casa, como seria normal, e como todos fazem; tem de trepar a uma árvore porque ninguém lhe permite pisar nem sequer o limiar da sua morada.

Porque é que a multidão e os discípulos impedem que alguém se aproxime? A razão da sua atitude consiste num defeito de visão. É como se tivessem posto óculos escuros: vêem tudo negro. Em Zaqueu só identificam o publicano, o pecador, o ladrão, o agiota e nada mais que isso; não conseguem descobrir nele nada de bom nem de positivo. Rejeitam-no mas, como não podem eliminá-lo fisicamente, isolam-no, desprezam-no.

A visão destes «grandes», destes «puros», é tão defeituosa que vêem o mal, mesmo onde não existe – em Jesus. Criticam-n'O severamente porque «Ele foi hospedar-Se na casa de um pecador!» (Lc 19,7).

Observemos, agora, como são límpidos e puros os olhos de Jesus: «Quando Jesus chegou ao lugar, olhou para cima e disse: Desce depressa, Zaqueu, porque hoje preciso de ficar em tua casa» (Lc 19, 5).

Chama-o pelo nome: Zaqueu (puro!) porque, a seus olhos, ele é puro, é filho de Abraão e, por isso, também é herdeiro das promessas gratuitas de Deus.

O pormenor é significativo: o olhar de Jesus move-se de baixo para cima. A posição elevada pertence, por direito, ao pecador, ao humilde, a quem precisa de ajuda. No centro das atenções – segundo os valores estabelecidos pela lógica evangélica - está o marginalizado, o pobre, aquele que falhou tudo na vida. E Jesus, o Mestre e Senhor, considera-Se servo dele (Lc 22, 27).

Que conseguiram os fariseus, os justos que olhavam Zaqueu de cima para baixo? Nada. Com as suas condenações sem apelo, com o seu desprezo, só o tornaram pior.

Se, ao menos uma vez, nós, cristãos, parássemos os nossos olhares impiedosos e hipócritas, severos e disfarçados de censores, juízes e acusadores que impedem as pessoas de encontrarem o único olhar que salva, o doce e terno olhar de Jesus!

Vamos tentar perceber um bocadinho melhor um outro conhecido encontro que Jesus tem com uma pecadora arrependida.

Lc 7, 36-50

A pecadora arrependida

36Um fariseu convidou-o para comer consigo. Entrou em casa do fariseu, e pôs-se à mesa. 37Ora certa mulher, conhecida naquela cidade como pecadora, ao saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um frasco de alabastro com perfume. 38Colocando-se por detrás dele e chorando, começou a banhar-lhe os pés com lágrimas; enxugava-os com os cabelos e beijava-os, ungindo-os com perfume. 39Vendo isto, o fariseu que o convidara disse para consigo: «Se este homem fosse profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que lhe está a tocar, porque é uma pecadora!» 40Então, Jesus disse-lhe: «Simão, tenho uma coisa para te dizer.» «Fala, Mestre» - respondeu ele. 41«Um prestamista tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários e o outro cinquenta. 42Não tendo eles com que pagar, perdoou aos dois. Qual deles o amará mais?» 43Simão respondeu: «Aquele a quem perdoou mais, creio eu.» Jesus disse-lhe: «Julgaste bem.» 44E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: «Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela, porém, banhou-me os pés com as suas lágrimas e enxugou-os com os seus cabelos. 45Não me deste um ósculo; mas ela, desde que entrou, não deixou de beijar-me os pés. 46Não me ungiste a cabeça com óleo, e ela ungiu-me os pés com perfume. 47Por isso, digo-te que lhe são perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa pouco ama.» 48Depois, disse à mulher: «Os teus pecados estão perdoados.» 49Começaram, então, os convivas a dizer entre si: «Quem é este que até perdoa os pecados?» 50E Jesus disse à mulher: «A tua fé te salvou. Vai em paz.»

Olhando à primeira vista, a mensagem geral do texto é que Jesus tem o poder de perdoar os pecados. Isto poderia ser dito de muitas maneiras. Mas dito desta maneira, ganha mais força, tem uma capacidade de tocar a nossa alma, um poder de sedução que nos trai e pode mudar a nossa vida. É uma forma de contar que transmite a verdade de Jesus de forma “polifónica”, com uma grande diversidade de aspectos, como se se tratasse de uma orquestra composta por muitos instrumentos mas na qual todos tocam a mesma música. É de uma riqueza, sendo narrativa, que sempre nos pode surpreender.

Tudo começa normalmente, a cena passa-se em casa do fariseu onde Jesus entra. Mas há uma intrusa. Traz perfume, que esconde mas explicita, uma vez que o perfume pode esconder maus cheiros mas ao mesmo tempo marca uma presença. Ela coloca-se atrás de Jesus – não um lugar qualquer, mas é o lugar do discípulo. Começa a tratar dos pés de Jesus – o lugar mais humilde. Lava com lágrimas, não água, limpa com cabelos, não com uma toalha.

Ao ver esta cena, o fariseu, que queria controlar Jesus, retrai-se e afasta-se – guarda os pensamentos para si. Interpela Jesus, mas Jesus fala de outra coisa. Parece que o Mestre tem um plano B, começa a contar uma história aparentemente fora do contexto mas “apanha” o fariseu, fá-lo concordar consigo: “julgaste bem”, diz Jesus ao fariseu.

E Jesus conclui com uma nova visão deste encontro, algo que se calhar para nós não é nada óbvio… Jesus é convidado, mas é Ele quem conduz o texto. Fala da falta de hospitalidade – “entrei em tua casa e não me deste….”. Jesus, com a entrada da pecadora arrependida, faz ver ao fariseu que ele, por não se achar pecador, não recebe Jesus de forma acolhedora, preparada. É Jesus quem revela os pecados, é neste encontro que o homem se descobre pecador e, ao mesmo tempo, perdoado. Jesus então não é apenas profeta, Ele perdoa os pecados.

Para nós esta passagem é muito significativa. Pomo-nos no lugar da mulher adúltera, que se reconhece pecadora e chora aos pés de Jesus. Cobre continuamente os seus pés de beijos, reconhecendo a sua majestade e o seu poder de perdoar. É este o verdadeiro encontro com Cristo, um encontro que muda a nossa vida. Como sempre, é Deus quem toma a iniciativa. Antes de mais Ele estende a mão, Ele chama à conversão. Ele que a felicidade do homem, não a tristeza do pecado. Por isso devemos ir ter com Ele, humildes e arrependidos, prostramo-nos a seus pés pedindo perdão. Não devemos ser como o fariseu, que O recebe em sua casa mas ao mesmo tempo considera-se digno e não recebe com a cortesia devida o Senhor Jesus. Não, nós devemos acolher o Senhor com toda a humildade. Devemos preparar a nossa casa – devemos prepararmo-nos com todo o nosso ser. Devemos pôr-nos trás d’Ele, como discípulos que queremos ser. Devemos ter esta fé que nos permite viver na certeza que Jesus tem força para curar o nosso pecado, que Jesus tem poder para nos converter. Esta é a fé que nos dá a salvação, a fé em Cristo que nos perdoa.

Para a discussão sobre o tema

Dedico tempo no meu dia para ler alguma parte da Bíblia? Porque não faço um esforço para ler, por exemplo, um Evangelho e tentar analisar um destes encontros com Jesus?

Encontro-me com Jesus? Vou com preconceitos em relação a Cristo ou quero ir ter com Ele com o coração pronto para receber o que Ele tem para me dar? Como deixo Jesus olhar para mim na oração e na minha história?

Que medida uso quando olho o mundo e os outros? Sou rápido a julgar, achando sempre que não sou tão pecador como os outros? Ou que, no lugar de alguém, não faria assim mas de outra maneira mais certa?

Tenho vergonha de pedir desculpa a Deus ou nem sequer penso em pedir desculpas?

Acredito mesmo que sou pecador mas que Jesus me pode mudar? E quando eu peço e mesmo assim não consigo mudar, mesmo assim continuo a pedir e a acreditar no poder de Deus, ou desmoralizo?

Ponto de Esforço (algumas sugestões)

Ler algumas passagens dos Evangelhos (por exemplo as que sugerimos neste tema) em que se relatem encontros com Jesus. Perceber o que está em questão, qual a mensagem em cada uma. Perceber o papel de Cristo em cada encontro.

Este encontro com Cristo também acontece nos encontros com os nossos amigos: na escola, em casa, nas férias. Encontro Cristo nos outros? O que posso fazer de concreto para que isso aconteça?

Fazer um bom exame de consciência, reconhecer com verdade e humildade que sou pecador e confessar-me, confiante que Jesus Cristo, pelo sacramento da Reconciliação, tem poder para me perdoar os pecados. Marcar um ritmo de confissão para não ser apenas um acto que eu faço quando estou desesperado ou quando me “obrigam”.

Escolher um encontro com a Equipa para um momento forte de encontro com Cristo. Pode ser de oração, de voluntariado, de reflexão…

Para ajudar à preparação da reunião e para ler no sentido de aprofundar o tema ler:

Catecismo da Igreja Católica (Ver Conversão no Índice Temático)

Passagens Bíblicas:

Paralelos da passagem da pecadora arrependida

Mt 26,6-13 | Mc 14,3-9 | Jo 12,1-11

Mc 2,3-17 Cura de um paralítico

Jo 8, 1-11 Apedrejamento da mulher adúltera

Mt 9, 9-12 Chamamento de Mateus

Mt 8, 5-13 Cura do servo do Centurião

Lc 21, 1-4 Oferta da viúva pobre

Oração de São João Maria Vianney

(padroeiro do Ano Sacerdotal)

Eu Vos amo, meu Deus,
e o meu único desejo é amar-Vos até ao último suspiro da minha vida.
Eu Vos amo, Deus infinitamente bom,
e prefiro morrer amando-Vos que viver um só instante sem Vos amar.
Eu Vos amo, meu Deus,
e só desejo o Céu para ter a felicidade de Vos amar perfeitamente.
Eu Vos amo, meu Deus,
e só temo o inferno porque aí nunca haverá a doce consolação de Vos amar.
Meu Deus, se a minha língua não puder estar sempre a dizer que Vos amo,
que o meu coração o diga tantas vezes como quantas eu respiro.
Senhor, dai-me a graça de sofrer amando-Vos, de Vos amar sofrendo,
e de um dia expirar amando-Vos e sentindo que Vos amo.
E quanto mais me aproximo do meu fim,
mais Vos imploro a graça de aumentar e aperfeiçoar o meu amor.
Amen

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