sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Tema: Dezembro

Este tema veio na Partilha. Espreitem as páginas do meio!


Deus fez-Se homem, para que o homem se fizesse Deus

Porque é que um cristão defende a vida humana? Porque é que defendemos os direitos humanos? Porque é que hei-de defender um assassino? Não merece morrer, por ter morto uma pessoa? Ou será que continua a ter direitos? Um homem mau, será que tem dignidade? Todos temos dignidade, mesmo aqueles que são assumidamente contra a Igreja e contra Deus? Merecem o meu respeito porquê, se não me respeitam? Estas e muitas outras perguntas existem na cabeça de muitos de nós e é por isso que um tema sobre a dignidade pessoal pode ser interessante.

De facto, sabemos que a doutrina da Igreja afirma claramente que todos os homens têm uma dignidade própria e não dispensável: «A dignidade pessoal constitui o fundamento da igualdade de todos os homens entre si», declara João Paulo II (Christifideles Laici, nº 37). É por termos todos a mesma dignidade enquanto pessoas, que todos somos iguais. «Não existem, na verdade, seres humanos superiores a outros por natureza, mas todos são iguais em dignidade natural» (Pacem in Terris, nº 89). Isto só se percebe se olharmos para o início, para o princípio do homem: Deus!

Deus cria-nos, por um misterioso desígnio da sua vontade. E sabemos que nos cria à sua imagem e semelhança. Ora esta expressão do Génesis (“Depois, Deus disse: «Façamos o ser humano à nossa imagem, à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.»”, Gn 1, 26) é um aviso muito importante! Somos imagem de Deus! Há no homem, na sua própria natureza, uma semelhança com Deus, o que nos torna, de certa maneira, sagrados! Por isso podemos dizer que a vida humana deve ser respeitada, por isso afirmamos que cada homem vale por ser homem, e não pelas coisas que têm. O homem vale pelo “ser”, e não pelo “ter”. Todas as pessoas têm um valor em si mesmas, quer sejam pobres ou ricas, novas (mesmo ainda não nascidas!) ou velhas, saudáveis ou doentes, inteligentes ou não! Porque todos somos criados por Deus, todos somos desejados por Ele desde sempre.

Mas há ainda uma razão fundamental para se perceber a dignidade humana: essa razão é uma pessoa, é Jesus Cristo. Jesus é a ligação que não se pode quebrar entre Deus e o homem. Porque é Deus que Se faz homem. E nesse momento da encarnação, quando o Anjo anuncia a Maria que esta foi escolhida para ser Mãe de Jesus, dá-se uma união que muda a história do mundo e do homem. Deus assume a condição humana, Deus marca com o seu selo, confirma através de Jesus, que ama o homem de uma maneira sem limites. E que o homem tem um valor acima de qualquer outra coisa na criação.

O homem é um ser inteligente, distingue-se de todos os outros animais por isso: ele participa da inteligência divina! O homem é um ser talentoso, é capaz de progredir nas ciências, nas técnicas, na arte. Nenhum outro animal se assemelha ao homem: o homem é possuidor de uma sabedoria que lhe é dada por Deus.

Diz-nos Santo Ireneu (séc. III): «Por causa do seu amor infinito, Cristo tornou-se naquilo que nós somos, para fazer plenamente de nós aquilo que ele é». Isto é uma frase muito bonita, que diz muito acerca de Deus e do homem. Descreve quase que uma troca que Deus fez com o homem: Deus fez-se homem, de modo que o homem se fizesse divino. Por isto tudo, percebemos que cada ser humano tem uma dignidade que tem de ser respeitada. Por isso Jesus Cristo afirma o mandamento do Amor; por isso a Igreja resume os Dez Mandamentos neste mandamento do Amor: “Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos”. Tudo isto vai na linha do que Jesus tinha dito: “Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes” (Mt 25, 40). Jesus identifica-se totalmente com cada homem, não obstante as suas características menos boas! Porque o amor de Deus é transbordante.

Ora se somos todos dignos, todos somos iguais. O que não significa que não tenhamos identidade própria, ou que não nos distingamos uns dos outros. O sermos iguais significa que não há uns acima dos outros. Somos todos pecadores necessitados de perdão; somos todos capazes de coisas grandiosas, pela graça de Deus. Somos todos amados por Deus, chamados por Ele à conversão.

Estas diferenças que nos distinguem são boas: só e se compreendem e legitimam na medida em que, sendo como são complementares umas das outras, contribuem, em harmonia, para o bem e serviço de todos.

«Sim, em Cristo, todos somos igualmente destinatários da providência e da predilecção de Deus, mesmo a ovelha perdida em busca da qual corre solícito o bom Pastor; todos somos igualmente beneficiados pelo mesmo sacrifício redentor; todos somos igualmente convidados para o banquete das núpcias eternas; todos fazemos igualmente parte do mesmo corpo, da mesma comunhão de caridade - ou da mesma família, se quisermos. Efectivamente, os homens, em Cristo, constituem uma só e única família, reunida em torno do Pai comum. «já não há grego nem judeu, nem circunciso nem incircunciso, nem bárbaro nem cita, nem escravo nem livre» (Col 3, 11). Há irmãos.

Para o cristianismo, a fraternidade é o último e mais adequado nome da igualdade» (D. António Rodrigues, Doutrina Social da Igreja – Pessoa, Sociedade e Estado)

Para a discussão sobre o tema

Na teoria, mais ou menos todos defendemos que todos os homens têm a mesma dignidade; mas a prática é bem diferente. Quantas vezes não fazemos julgamentos sumários de pessoas, deixando de os tratar como iguais a nós mas como inferiores?

Se cada um dos meus irmãos é imagem de Deus, então devo querer aprender com ele, estar com ele, ver o que me pode ensinar. Porque é que isso tantas vezes não acontece?

Estou empenhado em promover a igualdade entre os povos? Mais do que em acções políticas, combato por essa causa ajudando aqueles com quem me cruzo todos os dias e que vivem em miséria, na solidão, em sofrimento ou abandono?

Sou imagem de Deus, feito por Amor e para o Amor. Reconheço em mim qualidades boas, sinal da presença de Deus? Ou vejo-me sempre como independente de Deus, isolado da sua Vida?

Ponto de Esforço (algumas sugestões)

Participar em acções caritativas católicas que me ajudem a promover a igualdade de todos os homens.

Promover os direitos humanos (atenção, nem tudo o que hoje em dia se apregoa como direitos humanos, o são na realidade. Promover os direitos humanos é antes de mais promover a vida humana, desde a concepção até à morte natural; promover e lutar pelos direitos das famílias, cada vez mais atacadas nos nossos tempos; promover os direitos daqueles que sofrem, estão sós, que vêm negados os seus direitos a uma vida espiritual mais profunda), não tendo medo de marcar uma posição diferente da maioria, uma posição de profundo amor e respeito pelo Homem.

Meditar durante algum tempo numa passagem bíblica (por exemplo a passagem de Mateus sugerida em baixo), lendo-a, relendo-a, parando um bocado para pensar e para rezar, escrevendo sobre isso e comprometendo-me a aplicá-la na minha vida fazendo alguma acção concreta relacionada com o que rezei.

Para ajudar à preparação da reunião e para ler no sentido de aprofundar o tema:

Catecismo da Igreja Católica (Ver o início da Terceira Parte “A Vida em Cristo”; Primeira Secção, Capítulo I “A dignidade da Pessoa Humana”. Ver também Dignidade no Índice Temático)

Concílio Ecuménico Vaticano II, Constituição Dogmática Gaudium et Spes (Cap. I)

Passagens Bíblicas:

Mt 25, 31-46

Gn 1, 1 – 2, 4 (Relato da Criação do mundo e do Homem)

Oração

Senhor, ensina-nos

A não nos amarmos a nós mesmos,

A não nos contentarmos em amar os nossos,

Em amar aqueles que nos amam.

Senhor, ensina-nos a pensar nos outros,

A amar, antes de mais, os que não são amados

Senhor, faz-nos sofrer com a dor alheia.

Senhor, não consintas que sejamos felizes sozinhos...

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